Caso Robinho: Justiça da Itália pede execução da pena no Brasil

Ministério das Relações Exteriores encaminha análise para Ministério da Justiça. Ex-jogador foi condenado em última instância a nove anos de prisão por violência sexual cometida em 2013

A Justiça italiana pediu a execução da pena do ex-jogador Robinho em território brasileiro. Ele, assim como seu amigo Ricardo Falco, foi condenado de forma definitiva a nove anos de prisão por violência sexual cometida em 2013, contra uma jovem de 23 anos, em uma boate em Milão. A informação foi publicada inicialmente pelo Uol e confirmada pelo ge.

O Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, disse ter recebido comunicação do governo italiano e que encaminhou a análise de processos para o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), órgão ao qual o assunto compete.

O governo italiano já havia feito um pedido de extradição, negado em novembro de 2022 por não ser algo permitido pela Constituição do Brasil. Sobre a aplicação da pena em território brasileiro após condenação imposta na Itália, um tratado de cooperação judiciária em matéria penal entre os países, assinado em 1989, não prevê algo do tipo. Porém, em entrevista recente, o ministro da Justiça brasileiro Flávio Dino disse que há a possibilidade de prisão.

– O exame definitivo compete a questões jurídicas, não são questões políticas. A própria Constituição brasileira proíbe a extradição de cidadãos brasileiros natos. Mas, agora pode, em tese, haver esse cumprimento de pena, mas isso precisa ser examinado e isso efetivamente tramitar – explicou à rádio BandNews, em janeiro.

Procurado na parte da tarde pela reportagem do ge, o MJSP ainda não havia identificado a solicitação. A advogada de Robinho não retornou contato.

Veja o comunicado do Itamaraty:

“Comunicação recebida do governo italiano, por meio da qual se transmite decisão da Justiça daquele país sobre o tema, foi encaminhada à análise do Departamento de Repatriação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Recorde-se que a análise de processos desta natureza é de competência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), autoridade central para a cooperação jurídica internacional, inclusive para os casos de extradição e de transferência de condenados. Cabe ao Ministério das Relações Exteriores auxiliar o MJSP no encaminhamento da documentação às autoridades estrangeiras competentes, por meio das missões diplomáticas no Exterior.”

Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais.”

Relembre o caso

O crime cometido por Robinho aconteceu na Sio Café, uma conhecida boate de Milão, na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013. À época, Robinho era um dos principais jogadores do Milan. Além dele e de Falco, outros quatro brasileiros, segundo a denúncia da Procuradoria da cidade, participaram da violência sexual contra uma mulher de origem albanesa.

Amigos do jogador que o acompanhavam no exterior, os outros quatro brasileiros deixaram a Itália durante a investigação e não foram acusados, sendo apenas citados nos autos. A vítima, residente na Itália há alguns anos, naquela noite foi com uma amiga à boate comemorar seu aniversário de 23 anos – a violência ocorreu dentro do camarim do local.

Em outubro de 2020, o ge publicou com exclusividade interceptações realizadas contra Robinho e seus amigos com a autorização da Justiça – escutas foram instaladas até no carro que o jogador usava na Itália.

As gravações foram transcritas na sentença inicial e confirmam, segundo disse uma juíza que participou do julgamento em primeira instância, a versão da vítima de que houve violência sexual cometida por seis homens contra uma mulher que estava alcoolizada e inconsciente. “A mulher estava completamente bêbada”, disse Robinho em uma das conversas gravadas.

A primeira condenação do ex-jogador do Santos e de Ricardo Falco data de novembro de 2017. À época, Robinho jogava no Atlético-MG. Ele deixou a Itália em 2014, quando já tinha sido convocado a depor no inquérito que apurava o crime – o jogador negou a acusação, mas confirmou que manteve relação sexual com a mulher, ressaltando que ela foi consensual e sem outros envolvidos. No caso de Falco, uma perícia encontrou a presença de seu sêmen nas roupas da jovem.

No julgamento realizado na segunda instância, em dezembro de 2020, a Corte de Apelação de Milão manteve a condenação inicial de nove anos de prisão. As três juízas responsáveis pela sessão destacaram o “particular desprezo” de Robinho com a vítima, que foi “brutalmente humilhada”, e o que consideraram uma tentativa de enganar a Justiça italiana com uma “versão dos fatos falsa e previamente combinada” com os outros envolvidos.

Depois do Atlético-MG, Robinho passou por dois clubes turcos: Sivasspor e Istambul Basaksehir. Em outubro de 2020, chegou a ser anunciado pelo Santos, mas não entrou em campo pelo clube, já que teve seu contrato suspenso e posteriormente encerrado.

Em janeiro de 2022, a Corte de Cassação da Itália, entidade equivalente ao STF no Brasil, confirmou a condenação em última instância. Além dos noves anos de reclusão, Robinho também foi condenado a pagar uma indenização de 60 mil euros (cerca de R$ 372 mil na cotação da época).

Retirado do Globoesporte.com

Robinho — Foto: Divulgação Santos FC

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