Quase mil camisas, 30 kg de farinha de mandioca, 92 itens de medicamentos… Responsáveis pela logística da Seleção detalham planejamento para período de treinamentos antes da Copa do Catar
O que a seleção brasileira leva na bagagem para o Copa do Mundo do Catar? Como organizar uma viagem que dura mais ou menos 40 dias no frio europeu e no calor do Oriente Médio?
Parecem questões para digitar no Google, mas é o que não sai de planilhas e mais planilhas nos computadores de Luis Vagner, Hamilton Correia e Fabio Silva.
O trio de funcionários da CBF se divide na elaboração e conferência de listas muitos meses antes de Tite anunciar os 26 convocados, na última segunda-feira. Luis Vagner é o gerente de planejamento da CBF, Hamilton Correia, administrador, e Fabio Silva, conhecido como Fabinho, roupeiro da Seleção. É deles a missão de cuidar dos detalhe logísticos para a viagem.
É como transferir um pouco da CBF, da Granja Comary (costumeira base de concentração da seleção brasileira para grandes competições) e de um vestiário de futebol para duas cidades do outro lado do planeta. Primeiro Turim, na Itália, local em que a Seleção treinará por cinco dias, e depois para Doha, no Catar, onde será disputada a Copa do Mundo. E não é uma bagagem qualquer. São 5,5 toneladas num avião fretado.
Embarca neste sábado parte da delegação canarinho, que tem o técnico Tite, a comissão e todo o estafe, além dos três atletas que atuam no Brasil: o goleiro Weverton, o meia Everton Ribeiro e o atacante Pedro.
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Ao todo, entre jogadores, funcionários e dirigentes, o grupo vai ter 74 pessoas atrás do sonho do hexa no Catar. Os demais atletas se apresentam na segunda-feira depois da rodada das suas competições no fim de semana.
Por conta de restrições e procedimentos alfandegários corriqueiros – embora mais rígidos pela cultura local – de entrada no país, a organização dos profissionais da CBF inclui catalogação de todos produtos e itens que vão nesta bagagem. São 300 volumes entre rouparia, medicamentos, insumos, equipamentos eletrônicos, de fisioterapia, de treino… Tudo visto e revisto com bastante antecedência em algumas viagens anteriores a Doha.
– Desde o início das visitas lá (Catar) que o pessoal deles sempre falou para a gente: “o que vocês puderem antecipar, antecipa”. Isso desde locação de equipamento, por exemplo, se vai alugar uma esteira e deixar pra última hora, não vai arrumar. Porque vai ter muita demanda. No caso de comida a mesma coisa. Alguma coisa especial de última hora eu não arrumo – explica o gaúcho Luis Vagner, gerente de planejamento e logística da CBF.
Muitas vezes item fundamental para qualquer viagem de delegação brasileira, a comida não vai ser produto de muito peso na bagagem da Seleção. Isto porque tanto o hotel de Turim (no centro de treinamento da Juventus) quanto o hotel no Catar vão fornecer arroz, feijão, salada e outros mantimentos. Cada cozinha nestes locais já recebeu cardápios estipulados pela seleção brasileira. Mas nem tudo.
–A gente vai levar só farinha de mandioca e o Jaime (Maciel, chefe da Seleção) está estudando levar alguns temperos também, mas é basicamente mandioca. São 30 kg de farinha de mandioca – contabiiza o pernambucano Hamilton Correia, analista de logística da Seleção.
Menos volume do que na Rússia
Apesar dos itens e produtos para levar a Turim e a Doha serem volumosos, os organizadores da logística da seleção brasileira contam que a bagagem foi ainda maior – mais precisamente uma tonelada e meia mais pesada (total de 7 toneladas) há quatro anos na Copa da Rússia. A diferença? O frio na sede do último Mundial. No Catar, as temperaturas variam de 15º à noite a 30º durante o dia.
Cada atleta recebe três kits de uniforme na viagem, um para treino, outro para concentração e outro, claro, para os jogos – aí vão meias, shorts, bonés, calças, agasalho de chuva, agasalho de frio. A conta é de cerca de 700 camisas amarelas e 230 das azuais. Normalmente o jogador usa duas camisas por jogo, uma para cada tempo, mas ainda tem uma extra em caso de necessidade – por exemplo, caso ela seja rasgada ou sujar de sangue durante a partida.
A rouparia é responsável por mais da metade dos 300 volumes que a seleção brasileira leva para a Copa. O material sai da Granja Comary, em Teresópolis, no próprio dia da viagem, para ser despachado dentro do avião da Seleção. O fato de o voo ser fretado é uma facilidade nestes casos, porque existe preocupação de extravio de alguma parte da rouparia e dos itens de massagem, o que já aconteceu em voos para as Eliminatórias.
– Às vezes existem atrasos por extravios. O material chega em três dias, mas você precisa de um material de treino na chegada. Não pode esperar esses três dias. Então, como a gente separa e numera tudo, a gente ganha esse tempo – detalha Fabinho.
Veja alguns itens que a Seleção leva para o Catar:
- aparelhos de ultrassom
- câmara hiperbárica
- aparelhos de laser para fisioterapia
- seis macas
- botas de gelo
- massageadores
- rolinhos de fisioterapia
- duas mil travas de chuteira
- alargador de chuteira
- 700 camisas amarelas
- 230 camisas azuis
- 30 bolas de jogo (parte delas entregues pela Fifa, com tecnologia de chip)
- 30 kg de farinha de mandioca
- máquina de café
- impressoras
- máquina de grafar nomes na camisa
- 92 itens de medicamentos, entre antibióticos, analgésicos e muitos outros
- 134 insumos, tais quais seringas, bandagens, esparadrapos
- fitas adesivas para marcação de campo
- pratos de marcação de campo
- estacas para marcação de campo
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Tite acena antes de viagem para a Copa de 2018 — Foto: Lucas Figueiredo/CBF