Reforço do Palmeiras, paraense Rony passou fome, foi pedreiro e quase jogou no Corinthians

A pressão de jogar no Palmeiras não deve tirar o sono de Rony. A trajetória do atacante de 24 anos foi marcada por desafios maiores do que aqueles oferecidos pelo futebol. Até se destacar no Athletico, Rony passou fome no extremo norte do Brasil, se virou em bicos como pedreiro e mototaxista e teve uma carreira com sobressaltos.

É uma história que começou em uma localidade chamada Vila Quadros, parte da zona rural de Magalhães Barata, cidade de menos de 10 mil habitantes no norte do Pará. Foi lá que Ronielson da Silva Barbosa, o Rony, cresceu. E com dificuldades.

Rony foi criado ao lado de quatro irmão e sem a presença do pai, que se separou da mãe quando o futuro jogador ainda era criança. Em parte da formação, ele foi cuidado pela avó, e a situação piorou quando ela morreu.

Rony chegou a passar fome. Ele morava em uma casa de barro e dormia em uma cama sem colchão. Sobre a madeira da cama que ele e os irmãos dividiam, eram colocados pedaços de papelão e restos de pano.

– Nossa infância foi muito difícil. Nascemos numa família humilde mesmo, numa casa de barro. Foi muita dificuldade, muito sofrimento. (…) Papai separou da mamãe, foi embora. Morávamos com nossos avós, mas nossa avó faleceu, e ficamos só com o vovô. Passamos muita fome – contou Robson, irmão de Rony, em um perfil sobre o jogador publicado pelo GloboEsporte.com no ano passado.

Foi na Vila Quadro que Rony começou a jogar futebol. Quando não ajudava a família na roça, produzindo farinha de mandioca, ele disparava com a bola nos pés no campo de terra da vila. Anos depois, em 2012, um amigo que conhecia o potencial de Rony sugeriu que ele fizesse um teste no Remo. O jogador foi aprovado e entrou no time sub-20, mas decidiu retornar para casa depois de perder uma final. O Remo insistiu, e ele acabou voltando depois de alguns meses.

Em Belém, Rony não vivia apenas de bola. Ele também ia à escola e fazia bicos para ganhar alguns trocados. Trabalhou como pedreiro, mototaxista e auxiliar de mecânico. A dedicação ao futebol se tornou exclusiva quando ele virou jogador da equipe profissional. A estreia foi em março de 2014, depois de ser titular na Copa São Paulo de Juniores. Ele entrou em campo aos 17 minutos do segundo tempo, quando o Remo perdia por 1 a 0 para o São Francisco no Mangueirão e era vaiado pela torcida. Oito minutos depois, Rony fez o gol do empate.

Rony ganhou destaque no Timbu, fez 11 gols na Série B de 2016 e acabou chamando a atenção do futebol japonês. Foi para o Albirex Niigata por um ano. No começo de 2018, foi anunciado como jogador do Botafogo – com direito a foto com a camisa do clube – e até escolheu apartamento no Rio.

Mas ele jamais jogou pela equipe carioca. O time japonês argumentou que tinha, por contrato, direito a manter o jogador. E aí começou uma briga judicial que durou meses. E que fez Rony quase jogar no Corinthians..

Acontece que a diretoria do rival do Palmeiras se atentou à situação do atacante e negociou sua contratação ao longo de abril e maio de 2018. Chegou a existir um acordo entre Rony e o Corinthians. Mas a diretoria decidiu recuar. Temia que, na Justiça, acabasse perdendo a briga com os japoneses.

O recuo corintiano foi decisivo para Rony ir para o Athletico. O Furacão resolveu arriscar. No começo de setembro, depois de cerca de dois meses treinando no clube, ele estreava com a camisa atleticana – fazendo gol na vitória de 2 a 0 sobre o Bahia pelo Brasileirão.

Aquele foi o primeiro de 13 gols do atacante pelo Athletico. Foram 73 jogos e três taças erguidas – a Sul-Americana de 2018, a Copa do Brasil de 2019, fazendo o gol do título contra o Inter no Beira-Rio, e a J. League/Conmebol. No ano passado, foi o jogador com mais partidas (49) e mais assistências (10) pelo Furacão. Só fez menos gols (nove) do que Marco Ruben (13) e Marcelo Cirino (10).

Com isso, convenceu o Palmeiras a investir nele. Acabou contratado por cerca de R$ 28 milhões e deve fazer, nesta segunda-feira, seu primeiro treino no novo clube.

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