Partes estavam alinhadas para acordo, mas conversas para definição ficam para o próximo ano. Atacante não esconde insatisfação com a reserva, mas tem “multa impagável” para o Brasil
A negociação para renovação de contrato de Gabigol se arrastou por quase todo 2023 e só terá uma definição no próximo ano. O Flamengo decidiu que o martelo será batido somente em 2024, avaliando inclusive a performance do atacante, que por sua vez não escondeu sua insatisfação com a reserva em entrevista ao canal “Podpah” no YouTube na última segunda-feira:
Em outubro, as partes chegaram a avançar na negociação para uma permanência até o fim de 2028, com valorização salarial e bonificação por metas estipuladas em contrato. O acordo estava bem encaminhado, mas não houve a assinatura por nenhuma das partes.
A renovação era vista como prioridade e por isso o departamento de futebol iniciou as conversas um ano antes do fim do contrato, que se encerra em dezembro de 2024. Mas o cenário mudou: internamente, o que é visto como prioridade por um lado é tratado como injustificável por outro. O Flamengo está dividido para a renovação.
Para alguns, a pedida de Gabigol é como se estivesse acontecendo uma “recompra”. Algo semelhante aos impasses que aconteceram durante as conversas para a renovação de Bruno Henrique. No fim, o Flamengo e o camisa 27 entraram em acordo, enquanto o Palmeiras tentava a contratação.
A Gávea é o lado forte que não apoia a renovação principalmente pelo lado financeiro. Enquanto isso, o Ninho ainda defende o vínculo, mas mantém a cautela e conta com a performance do jogador para justificar os valores e o longo tempo de contrato – mais quatro anos.
A renovação não está descartada, mas está praticamente condicionada ao desempenho do atacante na próxima temporada, sobretudo no primeiro semestre. Com o contrato até o fim de 2024, Gabigol fica livre para assinar um pré-contrato a partir de junho.
Insatisfação por reserva e mudança de tom
Uma das ressalvas internas na renovação é o fato de Gabigol ter se tornado reserva com Tite, que foi escolhido para ser o técnico até o fim de 2024 e comandar o time no último ano da gestão do presidente Rodolfo Landim. E o atacante não escondeu a insatisfação com o treinador:
– Praticamente todos os jogadores saíram jogando com ele, e eu não, tá ligado? Claro que eu fico p*, quero jogar. Eu não estou suave, falei isso para ele. Óbvio que não estou feliz, quero jogar. Fui para a Inter (de Milão), Benfica, e saí porque não estava jogando. Não é pensamento individualista, todos já foram titulares com ele, eu ainda não fui. Sei que não tenho que ficar aqui falando, é mostrar o meu máximo, quando ele precisar vou estar lá – disse, em entrevista ao “Podpah”.
A última temporada, e a mais questionável desde que chegou ao Ninho, também não conta a favor do atacante. A queda de rendimento em campo é colocada na balança internamente, principalmente por quem defende que 2024 seja o último ano dele no clube. Para alguns, o ciclo do jogador no Flamengo está no fim.
A negociação par renovação estava no radar desde quando Gabigol foi o herói do tricampeonato da Libertadores em Guayaquil, no Equador. Mas as tratativas ganharam força só no segundo semestre de 2023, quando o atacante e seu agente, Júnior Pedroso, iniciaram as reuniões com Marcos Braz (vice-presidente) e Bruno Spindel (diretor executivo).
No início, as partes estavam otimistas, mas a mudança no tom da negociação pode impossibilitar a assinatura do novo contrato e colocar um fim no história de Gabigol no Flamengo.
Se antes o discurso era de que qualquer negociação por Gabigol só aconteceria pelo valor da multa, agora já há uma mudança no rumo da prosa. Internamente, há quem diga que “qualquer jogador é negociável”, o que valeria também para o maior artilheiro da atual geração.
Algo bem diferente do posicionamento inicial da diretoria, que antes deixava claro que não abriria mão do camisa 10 durante esta gestão. Mas um dos discursos internos ainda é o de não repetir o feito de Antonio Augusto Dunshee que vendeu Zico para Udinese em 1983. O ato gerou tal comoção na época que o então presidente renunciou ao cargo meses depois.
Interesse do Corinthians e “multa impagável”
O cenário que vive Gabigol no Flamengo começa a atrair outros clubes, e um que trata o interesse publicamente é o Corinthians. O presidente Augusto Melo assume só em 2024, mas desde que foi eleito elogia o atacante, o definiu como “a cara do Corinthians” e chegou a dizer que o jogador “precisa de novos ares”. Mas ainda não há qualquer contato oficial do Timão com o Rubro-Negro e nem com o jogador.
(Gabigol) É um grande jogador, agrada, tem a cara do Corinthians. Como outros grandes jogadores que a gente está monitorando”.
— Augusto Melo, presidente do Corinthians
– Não posso falar isso, na transição não foi cogitado o nome do Gabigol. Mas é um grande atleta, grande jogador que interessaria a qualquer clube grande. Ele tem a cara do Corinthians, também precisa de novos ares, como esses outros atletas que deixaram o Corinthians, vai fazer bem para eles ir para novos clubes, respirar novos ares. Como também o Gabigol, que está lá, não vem numa fase boa, quem sabe o Corinthians seria uma boa para ele – declarou o presidente à TV Bandeirantes, e negando estar discutindo uma possível troca de jogadores com o Flamengo.
– Quero trazer a identidade do Corinthians, ter aquele time aguerrido, atletas com personalidade forte, gosto desse tipo de coisa. Quero ir ao mercado para trazer esse tipo de atleta. É um grande jogador. Não tem nada de Fausto Vera em troca, Yuri (Alberto) em troca. Não sei de onde tiraram isso.
O Flamengo internamente também descarta envolver Gabigol em uma troca de jogadores e considera uma venda como improvável. A multa rescisória para o exterior é na casa dos € 35 milhões de euros (cerca de R$ 187 milhões na cotação atual), enquanto para o futebol brasileiro é ainda maior e considerada “impagável”, visto que o valor é calculado em cima do alto salário do jogador (2 mil vezes a remuneração média anual, de acordo com a Lei Pelé).
Assim, caso não se acertem para a renovação, Gabigol deve cumprir o contrato e se despedir em dezembro do ano que vem, como aconteceu com Diego Alves e Ribas em 2022, e com Filipe Luís e Rodrigo Caio em 2023.
Retirado do Globoesporte.com
Gabigol em viagem com o Flamengo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo