Diretoria atleticana ainda espera que investidor apresente cheque para resolver endividamento oneroso no curto prazo. À medida que a sangria das contas se agrava, missão fica mais difícil
A dívida do Atlético-MG aumentou em 2022 e hoje está acima de R$ 2 bilhões. O valor inclui obrigações que estão em nome da associação civil, cujas demonstrações contábeis estão prestes a ser publicadas pelo clube, e também o endividamento feito para a construção do estádio.
No balanço do clube, a dívida está próxima a R$ 1,57 bilhão, seguindo os critérios da própria diretoria alvinegra. Ela aumentou em R$ 259 milhões, em relação a 2021, principalmente por causa do elevado custo do departamento de futebol e dos juros que incidem sobre as dívidas.
Já o montante referente ao estádio está em outro balanço, da empresa que detém e administra o negócio. Como mostrou o ge em setembro do ano passado, o clube precisou captar R$ 440 milhões em novas dívidas para concluir a construção da Arena MRV.
Na manhã desta quarta-feira, a reportagem esteve em contato com o CEO Bruno Muzzi e o diretor financeiro Paulo Braz. À tarde, os executivos conversarão com outros jornalistas.
A piora do cenário financeiro impacta o plano para a criação da SAF e a consequente venda do futebol. O Atlético-MG negocia com potenciais investidores, sendo o americano Peter Grieve o que está mais adiantado.
No desenho inicial, o investidor compraria 51% das ações do clube-empresa e se comprometeria a pagar a dívida onerosa no curto prazo. Mecenas atleticanos converteriam suas dívidas em capital e seriam donos de 15%, enquanto os 34% restantes permaneceriam com a associação.
À medida que o endividamento continua a escalar, a necessidade de capital por parte do investidor aumenta. Discutem-se alternativas para que o projeto seja levado adiante. Se o investidor tiver de aportar mais dinheiro, pode receber percentual maior sobre a empresa, por exemplo.
Por enquanto, não há intenção de suspender a proposta da SAF. Caso a negociação com investidores estrangeiros não ocorra, a diretoria tem como “plano B” a constituição da empresa, restrita a investidores locais.
Por que a dívida só piora
No relatório que acompanha as demonstrações contábeis, a diretoria do Atlético-MG destaca três motivos para o aumento de R$ 259 milhões da dívida da associação, em 2022:
- R$ 112 milhões – Investimento em futebol
- R$ 104 milhões – Juros sobre dívidas
- R$ 29 milhões – Andamento de ações judiciais
- R$ 14 milhões – Outros
O que a direção atleticana chama de investimento no futebol indica o alto custo do departamento. Embora na temporada passada não tenham sido contratados tantos jogadores, as renovações contratuais com os campeões foram custosas, entre aumentos de salários, luvas e comissões.
O desequilíbrio no orçamento do departamento de futebol tem sido absorvido por empréstimos bancários. Como o Atlético-MG não tem tanto crédito na praça, os créditos têm sido obtidos com os avais financeiros dos mecenas que dirigem o clube, sobretudo Rubens Menin.
Juros são problema comum a muita gente. Com a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, todas as dívidas ficam mais caras – para pessoas, empresas e o próprio governo. No caso do Atlético-MG, que acumulou a maior dívida do futebol brasileiro, o impacto nas contas é maior.
No caso das ações judiciais, o documento destaca processo movido pela Construtora Épura, referente a um parque aquático que o clube começou a construir há muitos anos e não terminou. A empresa judicializou o impasse. O acordo firmado no ano passado acrescentou R$ 13 milhões.
O tropeço do shopping
Outro fator relevante na história recente do Atlético-MG, em relação às finanças, está na venda do shopping DiamondMall, em Belo Horizonte.
O clube tinha acordo formalizado com a Multiplan para vender os 49,9% restantes da propriedade no ano passado. A empresa compraria essa parcela por R$ 340 milhões, valor que seria usado para abater dívidas onerosas, ou seja, aquelas que carregam os maiores juros.
Quando a Multiplan anunciou a desistência do negócio, houve um abalo. A companhia fez nova proposta, de R$ 170 milhões por 24,95% do shopping, meses depois. A demora para concluir a negociação e a redução do valor comprometeram o plano da diretoria atleticana.
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Sede administrativa do Atlético, no bairro Lourdes — Foto: Fred Ribeiro