Coaracy Nunes, ex-presidente da CBDA, morre no Rio aos 82 anos após lutar contra o coronavírus

Ele chegou a testar negativo em exame mais recente, mas precisou fazer uma cirurgia para aliviar a pressão intracraniana e, em fase terminal de Alzheimer, acabou falecendo

Morreu nesta quinta-feira, aos 82 anos, o advogado Coaracy Nunes Filho, que presidiu a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) por quase 30 anos, entre 1988 e 2017. Durante a passagem do paraense pela entidade, as modalidades aquáticas brasileiras conquistaram dez medalhas olímpicas, das quais uma de ouro, três de prata e seis de bronze (os atletas que subiram ao pódio foram Gustavo Borges, Fernando Scherer, Carlos Jayme, Edvaldo Valério, Cesar Cielo, Thiago Pereira e Poliana Okimoto).

– O Coaracy semana passada estabilizou clinicamente, chegando a negativar o Covid-19 e, na execução de tomografia para verificar a piora do nível de consciência, foi evidenciado um aumento dos hematomas subdurais bilaterais já existentes. Foi realizada uma cirurgia para alivio da pressão intracraniana na ultima quinta-feira, mas, infelizmente, o Coaracy não despertou e constatou o que já esperávamos uma fase terminal do Alzheimer. Na manhã de hoje, dia 14 de maio, fez sua passagem de forma tranquila. Sinto-me privilegiada de ter o Coaracy como meu pai, mentor, amigo e de poder acompanhá-lo em toda sua trajetória como um homem realizador e amante incondicional do esporte. Um exemplo para meus filhos… e que seu carinho , sorriso, alegria, espontaneidade e empolgação inspire as pessoas de bem – falou Luciana Nunes, filha de Coaracy, em mensagem ao GloboEsporte.com.

Coaracy estava entubado em um hospital na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, estado onde viveu a maior parte de sua vida, após ter complicações na noite de 25/4, um dia antes de seu aniversário. O ex-dirigente sofria de diabetes, hidrocefalia e demência senil, de acordo com sua família. No hospital, foi confirmado que Coaracy tinha Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. De acordo com a filha, um teste mais recente deu negativo, mas, após a cirurgia da semana passada, ele não acordou mais e, nesta quinta, faleceu. Ele deixa a mulher, Maria da Glória Nunes, e duas filhas.

Nunes nasceu a 26 de abril de 1938 em Belém, capital do Pará. Filho de um deputado federal pelo Amapá, mudou-se com a família para o Rio ainda jovem. Posteriormente, formou-se advogado. Sua ascensão no cenário esportivo nacional ocorreu na metade da década de 1980. Nunes, que levava no currículo a direção de esportes olímpicos do Fluminense e atuação na Farj (Federação Aquática do Estado do Rio), disputou em 1985 a presidência da CBN (Confederação Brasileira de Natação) com Ruben Márcio Dinard – filho do mandatário da entidade à época, Ruben Dinardi, que estava havia 25 anos à frente dela.

Ruben Márcio acabou por vencer o pleito de maneira apertada (13 a 11). Mas houve uma disputa ferrenha por poder subsequentemente, que envolveu o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), pedidos de anulação e intervenção decretada pelo governo federal (com direito à nomeação da ex-nadadora Maria Lenk como interventora brevemente) e tiroteio de denúncias de irregularidades. Cansado da disputa política, Ruben Márcio deixou o cargo após acordo com Nunes, que recebeu ao longo de toda a campanha apoio de uma associação de nadadores descontentes com a situação.

Nunes passou a comandar a CBN, mas só foi presidente eleito de fato em 1988, quando determinou a mudança do nome da entidade para CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Seu grande trunfo foi a assinatura de um contrato de patrocínio com os Correios em 1991. O acordo, um dos primeiros de grande porte do esporte olímpico nacional, foi renovado continuamente até 2019, quando a estatal retirou todo apoio esportivo.

O dirigente gostava de enaltecer que, para fechar o vínculo com os Correios, havia tido ideia criativa de falar diretamente – à base de muita insistência – com a cúpula da empresa.

Problemas com a Justiça

Em setembro de 2016, o Ministério Público Federal em São Paulo denunciou desvio de recursos públicos federais por dirigentes da CBDA, entre os quais Coaracy Nunes, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga (diretor financeiro), Ricardo Cabral (coordenador do polo aquático) e Ricardo de Moura, superintendente da confederação. Todos eles sempre negaram todas as acusações.

https://globoesporte.globo.com/

Sobre o autor