O drama de Luan: ex-Rei da América não joga há um ano e cogita até abandonar o futebol

Craque do continente em 2017, ex-Grêmio e Corinthians tem vida discreta no interior de SP, busca novos investimentos e avalia futuro após problemas com álcool, perdas e decepções na carreira

Luan Guilherme de Jesus Vieira tem tido pouco contato com o futebol. Desde que entrou em campo pela última vez, defendendo o Vitória contra o Treze-PB, pela Copa do Nordeste de 2024, cada dia o afasta mais da carreira que lhe rendeu fama, títulos, muito dinheiro e a possibilidade de simplesmente ficar em casa e curtir a vida ainda jovem.

Esta quinta-feira, 27 de março, é representativa para Luan: no mesmo dia em que completa 32 anos de vida, o meia-atacante chega também a um ano sem entrar em campo, sem clube e em meio à incerteza sobre a continuidade da carreira no futebol profissional.

As propostas diminuem com o passar dos dias, enquanto a chance de optar pela aposentadoria definitiva aumenta. A grande dúvida de Luan é o quanto valeria a pena tentar a retomada da carreira neste momento, segundo pessoas próximas ao jogador relataram ao ge. Qual clube abriria as portas? Qual a paciência dos torcedores com o seu retorno? É possível voltar a atuar em alto nível?

Alguns dos questionamentos acima são feitos por Luan durante o período longe do futebol, apesar do desejo pessoal de retomar a carreira. Os inúmeros problemas físicos também são colocados na mesa, aumentando a dúvida sobre a possibilidade de voltar a atuar em alto nível.

ge tem tentado entrar em contato diretamente com Luan para uma entrevista desde setembro de 2024. Seja por meio do seu empresário ou de pessoas próximas, a reportagem não conseguiu ouvir o jogador.

O Luan quer muito voltar a jogar, mas ele passou por várias coisas nos últimos anos. Não é fácil carregar o peso que ele carrega…

— disse ao ge uma pessoa próxima ao jogador.

Sem conseguir emplacar boas temporadas – foram apenas 22 partidas desde 2022 -, Luan coloca na balança o peso da pressão em torno da expectativa por um bom desempenho, como teve no auge da passagem pelo Grêmio. Ou seja, a cobrança externa e o desejo por um clube que ofereça um projeto interessante são os pontos mais sensíveis para o jogador optar por uma volta neste momento.

O jogador descarta aceitar uma proposta em que ele possa ser o grande alvo e responsável pelo insucesso de um clube, por exemplo. Por isso, a tendência é de que o jogador só embarque em um projeto que o trate como mais uma peça e não como “salvador”. Neste cenário, as chances de atuar no Brasil diminuem, e propostas de um mercado secundário do exterior passam a ser consideradas.

Mais sobre Luan

  • Nome: Luan Guilherme de Jesus Vieira
  • Idade: 32 anos
  • Posição: meia-atacante
  • Carreira: Tanabi, América-SP, Catanduvense, Grêmio, CorinthiansSantos e Vitória.
  • Títulos: Copa do Brasil (2016); Libertadores (2017); Recopa Sul-Americana (2018); Campeonato Gaúcho (2018 e 2019); Campeonato Baiano (2024); Torneio de Toulon (2014) e medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 2016.
  • Prêmios individuais: Craque do Brasileirão 2015; Bola de Prata (2015 e 2017); Rei da América 2017 e artilheiro da Libertadores 2017.

Apego às raízes

perda de dois amigos em tragédias ao longo dos últimos anos acabaram aumentando a desilusão do atleta com o futebol, muito pelo distanciamento da família e amigos que a rotina causa. Luan é de uma região periférica de São José do Rio Preto e cresceu em meio ao crime e inúmeras possibilidades de tomar outro caminho na vida.

Mesmo conseguindo carreira de sucesso no futebol, ele não abandonou os amigos de infância, ainda que alguns deles tenham tomado rumos distintos. O apego às raízes e a morte de dois dos seus melhores amigos mexeram com o emocional de Luan justamente em um momento de transição na carreira, com a saída do Grêmio para o Corinthians.

Jogar no Corinthians era o sonho dele, a frustração por não ter dado certo lá foi muito grande. É uma ferida aberta

— disse ao ge uma pessoa próxima a Luan.

A saída do Corinthians é vista como um divisor de águas no ânimo de Luan com a carreira. Torcedor desde a infância, o sonho era um dia poder atuar no clube do coração. A maneira como a relação acabou não foi bem digerida e aceita pelo jogador, agredido por torcedores que invadiram um motel onde ele estava, em julho de 2023.

Luan esperava ser abraçado e ter maior apoio justamente pela sua identificação com o Corinthians.

A partir dali, além da tentativa de retorno ao Grêmio, Luan percebeu que talvez não fosse mais receber o carinho e compreensão que esperava para poder recuperar o seu futebol. A soma disso com os problemas físicos, as perdas fora de campo e a desilusão com as pessoas que fazem o esporte aumentaram a vontade de ficar em casa e apostar apenas em um projeto que lhe dê maior segurança.

O que Luan tem feito?

Luan mora em São Paulo e vive boa parte do tempo em São José do Rio Preto, cidade onde nasceu e mantém amizades desde que a carreira deslanchou. Vivendo de maneira discreta nos últimos meses, apesar de frequentar festas e eventos, ele tem conversado com amigos próximos para tomar uma decisão definitiva sobre a carreira.

Segundo pessoas ouvidas pelo ge, Luan sofre de problemas com o consumo excessivo de álcool, algo que é apontado como um dos fatores que atrapalharam o desenvolvimento da carreira. Além disso, o fato de o jogador não ter tido acompanhamento nas categorias de base o atrapalhou na construção física necessária para evitar os problemas musculares, que passaram a incomodar muito nos últimos anos.

O foco de Luan tem sido buscar investimentos que possam potencializar os ganhos da carreira e ter uma vida mais tranquila depois da aposentadoria oficial. Em Rio Preto, por exemplo, o jogador mantém uma arena com aulas de futebol, society, futebol de areia e vôlei de praia.

A rotina do jogador se distanciou do futebol, e por isso um retorno é considerado, por pessoas próximas ouvidas pelo ge, provável apenas em caso de um projeto sólido no Brasil ou uma oportunidade fora do país – em um mercado secundário, algo antes descartado pelo jogador. Os próximos meses serão cruciais para a definição do futuro de Luan como atleta profissional.

Carreira

Nascido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Luan passou por Tanabi, Catanduvense e América-SP até chamar a atenção do Grêmio depois de boa participação em uma edição da Copinha.

No Tricolor Gaúcho, Luan atuou no sub-20 antes de ser promovido ao profissional, onde ficou por seis temporadas consecutivas, sendo campeão da Copa do Brasil (2016), bicampeão gaúcho (2018 e 2019), campeão da Libertadores em 2017 e da Recopa Sul-Americana no ano seguinte.

ndividualmente, Luan conquistou o prêmio de melhor jogador da América do Sul no ano de 2017 pelo desempenho no título gremista da Libertadores. Na ocasião, foi artilheiro da competição com oito gols marcados.

Na primeira passagem pelo Grêmio foram 288 jogos com 75 gols marcados. Luan ainda foi medalhista de ouro com a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 marcando três gols em seis jogos.

Em 2019, Luan foi comprado pelo Corinthians por R$ 29 milhões e chegou ao clube dizendo realizar um sonho de infância. A passagem pelo Parque São Jorge, porém, não deixou saudades.

Em quatro temporadas, foram 78 jogos, apenas nove gols marcados e um empréstimo ao Santos no meio do caminho. O atacante foi agredido por torcedores que invadiram um motel onde ele estava com mulheres e amigos. Foi o estopim para o fim de uma relação que já seria encerrada ao término do contrato, em 31 de dezembro de 2023.

Depois de sair do Corinthians, retornou ao Grêmio para uma passagem sem brilho. Foram apenas cinco jogos. No Vitória, seu último clube, Luan entrou em campo seis vezes e deu uma assistência, mas acabou rescindindo o contrato em comum acordo. Desde então, não entrou mais em campo.

Retirado do Globoiesporte.com

 Foto: Reprodução/Instagram

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