Esporte Espetacular tem acesso com exclusividade a áudios apreendidos na investigação com diálogos entre acusado de aliciamento e Romário, ex-Vila Nova, sobre esquema na Série B
“Ninguém é de apavorar ninguém. Só que o cara é do Primeiro Comando, o cara é o certo pelo certo. A partir do momento que ele perder 50 centavos, ele já vai atrás com dois pés na porta. Agora, imagina R$ 500 mil…”
O trecho de áudio captado em investigação do Ministério Público de Goiás dá o tom do nível das ameaças envolvendo o processo de manipulação de resultados no qual oito jogadores são acusados de envolvimento na Série B do Brasileirão. As conversas apontam ainda o desespero de Romário, ex-jogador do Vila Nova, na tentativa de captar companheiros para o esquema, e indica que o grupo também atuou na Série A dos estaduais de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul de 2023.
O Esporte Espetacular teve acesso a gravações que fazem parte das investigações, nas quais Bruno Lopez Moura aparece como o aliciador. Marcos Vinícius Alves Barreira, o Romário, é um dos alvos da investigação.
Na última sexta-feira, os dois e outras 12 pessoas se tornaram réus, depois que a Justiça de Goiás aceitou a denúncia feita pelo MP. No total, oito atletas fazem parte do processo. O grupo responde pelos crimes de organização criminosa e corrupção em competições esportivas. Se condenados, podem pegar até seis anos de prisão.
Entre os áudios e vídeos obtidos com exclusividade pelo Esporte Espetacular, está uma dura cobrança do acusado de ser o aliciador, Bruno Moura, contra Romário. O acordo previa que o atleta do Vila Nova cometesse um pênalti ainda no primeiro tempo da partida contra o Sport, pela última rodada da Série B, mas o trato não contava com a ausência do jogador da lista de relacionados.
No material apreendido, há também provas de que Romário e o seu companheiro de fraude, segundo as investigações, o atleta Gabriel Domingos, tentaram persuadir outros quatro atletas a participar do esquema: Riquelme, Jean Cândido, Wiliam Formiga e Van Basty. Mas todos rechaçaram a ideia.
Em diálogos apreendidos, há ofertas de valores que giravam entre R$ 50 e R$ 200 mil.
– Então, é muito mais fácil, irmão, você pegar e arrumar um jogador para fazer a parada amanhã. Amanhã é a última rodada, ninguém tem nada a perder, certo? Arruma um cara para fazer. Até mesmo você se fortalece. “Cê” ganha uma comissão, pressionava o acusado de ser o chefe do grupo, Bruno Moura.
Romário recebeu R$ 10 mil antes da partida pelo trato e teria direito a mais R$ 140 caso o pênalti fosse cometido. De acordo com a investigação, o jogador chegou a oferecer “vantagem indevida de até R$ 200 mil para quem cometesse pênalti no primeiro tempo”. Não deu certo. A partida terminou 0 a 0, sem penalidades, e o grupo ficou no prejuízo.
O advogado de Bruno, Ralph Fraga, nega que seu cliente seja chefe de uma organização criminosa e que tenha ameaçado o jogador Romário:
“O Bruno absolutamente nega a existência de uma organização. Não existe de fato núcleos autônomos, que seriam responsáveis por determinadas funções, como é mencionado pelo Ministério público. O Bruno não aponta em momento nenhum, pelo contrário, nega a existência de sócios, pessoas efetivamente ligadas a ele para qualquer atitude ilícita, como também ele. Ele afirma veementemente a inexistência de uma chefia por sua parte”.
Manipulação também em Estaduais
Entre as provas colhidas estão diálogos que indicam manipulação de resultados em jogos de campeonatos estaduais desse ano. No material apreendido, o próprio Bruno Moura, acusador de ser o aliciador, passa a mensagem:
– O Mineiro para amanhã já está fechado. E o Gaúcho para segunda também.
A investigação ainda não conseguiu saber se houve, de fato, manipulação nas competições.
Romário, Matheusinho, Gabriel Domingos e Joseph estão entre os jogadores réus na investigação — Foto: infoesporte